sábado, 21 de abril de 2012

Parte 17

21 de abril
Por volta de 22:00

Catarina e Luiz formavam a segunda dupla, que seguiu rumo ao corredor da esquerda.

Estava escuro. Quando chegaram ao pátio naquela noite, Catarina reparara que a lua estava enorme, reluzente. Pensou consigo mesma que seria mais fácil, uma vez que ela iluminaria todos os corredores, repletos de pequenas janelas.
Mas agora a lua parecia ter ido dar uma volta por outros territórios.  Ela não se lembrava de ter nuvens no céu aquela noite. De qualquer forma, estava escuro demais, a ponto dela precisar da lanterna para enxergar o rosto do amigo ao seu lado.
Luiz observava a escuridão como alguém que observa uma obra de arte. Estava concentrado, como era seu normal, porém Catarina podia ver algo diferente em seu olhar. Ele parecia ali, mas parecia distante ao mesmo tempo.
- Luiz... - ela começou.
- O que foi Cat, está com medo?
- Não é isso... Não acha estranho não ter luar algum? estamos no breu total...
- Acho que não... As janelas são pequenas, e a lua deve estar do outro lado agora.
- Mas mesmo assim...
- Bobagem Cat, temos lanternas, Walkie-talkies e um mapa. Não se preocupe.

Seguiram pelo corredor escuro e gelado. Aquele lugar parecia não ver luz do sol há anos. Sentiam-se em uma caverna. Cat olhava com a lanterna para dentro das salas, através das pequenas janelas de vidro das salas. Luiz sempre olhando em frente.
- Acho que deveríamos entrar em algumas delas. - Ela disse.
- Tem razão. Vamos entrar nesta.
Luiz foi em direção a uma porta, cuja tinta havia desbotado há muito tempo. A janelinha estava suja e embaçada, não permitindo ver coisa alguma lá dentro. Colocou a mão na maçaneta fria e empurrou. A porta se abriu com um gemido espectral, que encheu o corredor de ecos, que fizeram a nuca de Cat se arrepiar.

Luiz entrou primeiro, seguido de Catarina. As luzes das lanternas se dispersavam pela sala, oferecendo aos seus olhos vultos que pareciam fantasmas feitos de lençol, envoltos por escuridão. Cat deu um gritinho agudo, que incomodou os ouvidos do amigo, mas logo percebeu que o que via eram apenas móveis velhos cobertos por panos brancos, que os protegiam da poeira.

A sala era grande, e as janelas eram tapadas por tábuas. Somente as lanternas lançavam sua luz sobre as coisas, dando ao local um ar ainda mais espectral do que seria comum.

Cat vasculhava um canto da sala, enquanto Luiz se preocupava com o outro lado. Levantavam tecidos para ver o que havia embaixo, mas não encontravam nada especial. Cat encontrou uma boneca antiga, estranha e sombria, mas ignorou. Passou ao lado de uma estante e viu, nas sombras que a lanterna fazia, algo peculiar. Foi até lá e percebeu que havia uma porta camuflada na parede. Tentou abri-la, mas sem sucesso.
Era uma porta simples, de madeira pintada de branco, mas, assim como tudo mais naquele lugar, gasta com o passar dos anos. Chamou Luiz para ajudá-la, mas a porta não cedeu.
Ficaram curiosos para saber o que tinha lá, mesmo não entendendo exatamente o motivo de tal curiosidade, afinal, era apenas uma porta. Mais uma naquele lugar que parecia não ter fim. Procuraram por um tempo por alguma chave, mas não encontraram nada.

Quando já estavam por desistir da busca, uma sombra pareceu passar no corredor, olhando para dentro da sala pela fresta da porta entreaberta.
Cat viu num relance aquele vulto negro, mais negro que a própria escuridão da sala onde se encontravam, mas estava tão escuro que não sabia se era real ou fruto de sua imaginação assustada.
De qualquer forma, decidiu verificar.

Voltou-se em direção à saída, abrindo bem os olhos e tomando cuidado para não tropeçar em nada, sem tirar a atenção do corredor. Luiz chamou-a, mas ela fez apenas um sinal com a mão, como que para ficar em silêncio, e continuou andando lentamente. Chegou por trás da porta e tentou olhar pela janelinha embaçada. Lá de fora o vulto de uma criança a observava, Ela podia ver perfeitamente, mesmo no escuro.

E então aquele riso. Um riso como ela nunca ouvira na vida. Um riso apavorante, fino, mas ao mesmo tempo com uma força capaz de paralisar as pessoas mais valentes. Ela não conseguia se mexer. Luiz a chamava, mas ela parecia não estar mais ali. Sabia que estava lá, mas seu corpo simplesmente não respondia.

Sentiu Luiz sacudi-la, e então ouviu passos. E uma voz indefinível ao longe, no corredor. A criança, então, saiu correndo. Ela não podia mais vê-la, mas ouvia seus passinhos leves se afastando pelo corredor, saltitando rápido, em direção à voz mais recente.

Tudo se passou muito rápido, e o que pareceu uma eternidade depois, ela voltou de seu transe, sentada em uma cadeira velha, com Luiz na sua frente, olhando preocupado. Não sabia ainda o que vira, mas sabia que nunca, em toda sua vida, sentira um pavor tão intenso. Seus braços e pernas ainda não respondiam, e quando Luiz perguntou se ela estava bem, ela ouviu sua própria voz dizer, mesmo não tendo pensado em dizer aquilo: - Vão embora!








Parte 16

21 de abril
23:30

Estamos voltando para o ponto inicial, o local de onde nos separamos do resto da equipe. Desta vez estamos caminhando mais rápido, sem entrar nas salas, de forma a otimizar tempo. Conforme nossos passos aumentam de velocidade, os passos que nos seguem faz o mesmo. Tentei tirar fotos, mas nada apareceu. Porém, a atmosfera está mudando, parece que esfriou mais e a suave neblina ocupa ainda mais o lugar, dificultando nossa visão até com as lanternas. Agora pouco Renan jurou ter ouvido alguém sussurrar em seu ouvido. Uma voz suave, feminina. Achei que estivesse impressionado, pois o ambiente é muito sugestivo... Quem sabe.

Mas agora as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas. A maldita boneca que nos observava na sala, quando viemos... Ela está sentada no corredor.

Lembro-me muito bem que a sala em frente a ela é a mesma sala onde a vimos na primeira vez, pois decorei o número: 96. Entramos, na esperança de encontrar outra boneca, sentada ali, mas ela não está mais lá.

Renan se perguntou se alguém está brincando conosco. A esta altura, estou começando a achar pouco provável. Realmente, se for uma brincadeira, está dando certo, estamos começando a ficar assustados.

Há poucos minutos, começamos a ouvir um choro baixo, suave, de menina. Chamamos, mas ninguém respondeu, porém, o choro pareceu ir se distanciando aos poucos.Olhamos para fora, e nada havia lá. Nada mesmo, nem a maldita boneca.

Tentei chamar os outros pelo rádio, mas só temos estática. Renan, aparentemente tão ou mais nervoso que eu, gritou pelos outros, mas nada aconteceu. As janelas das salas estão vedadas com tábuas, coisa que não havíamos reparado. Vamos continuar andando, agora mais rápido, a caminho da recepção. 




Parte 15

21 de abril
22:00

Faz mais ou menos duas horas desde que começamos. Renan e eu seguimos pelo corredor da direita, e ele parece não ter fim. Entramos em várias salas, e todas elas parecem iguais. Pilhas de papéis empoeirados, uma mesa de madeira ao centro e algumas estantes, nada muito além. 
Em uma das salas, porém, encontrei uma boneca velha sentada na poltrona. Tinha o tamanho de uma criança de dois anos, cabelos embaraçados e um vestido puído. Tive a impressão de que seus olhos vidrados nos seguiam enquanto nos movimentávamos procurando por algo naquela sala escura e cheirando a umidade. Não gostei de sensação, de forma que pedi a Renan que saíssemos.

Caminhamos mais um pouco pelo corredor. Todo o prédio está muito mal cuidado, mas em algumas partes tudo parece estar mais destruído. O corredor é muito escuro, muito úmido e as paredes estão escuras e descascadas. Em algumas partes dá para ver os tijolos. Achei muito estranho o fato de que não conseguimos ver a lua sequer uma vez, nem ao menos o brilho dela entra pelas frestas das pequenas janelas que ficam acima de nossas cabeças. O céu parece estar limpo, só que muito mais escuro. Sem as lanternas, não conseguiríamos enxergar nada.

Caminhamos com cuidado para não esbarrarmos em nada. Renan carrega uma câmera portátil, e eu um aparelho que trouxemos para leitura de voz. Tudo está silencioso, exceto pelos nossos passos, e por outros que começamos a ouvir meia hora atrás, depois que saímos da tal sala da boneca. 
No começo achei que eram os ecos de nossos próprios passos, mas agora percebemos que parece haver uma terceira pessoa conosco. Estamos ouvindo claramente, mas não vemos nada, absolutamente nada se movendo, além de nossas sombras se projetando na luz das lanternas.

Agora estamos sentados dentro de uma das salas gêmeas deste corredor. Todas se encontram do lado esquerdo, uma vez que o lado direito tem uma parede que separa o corredor do lado de fora. Tentar olhar por uma das janelas, mas estão muito altas. Estamos andando vagarosamente e nos demorando dentro dos aposentos, mas mesmo assim tenho a impressão de que este corredor é muito maior do que o mapa descreve, e também do que podemos ver do lado de fora. É uma sensação alucinante.

Depois de conversarmos sobre isso, Renan e eu resolvemos voltar. Não sabemos quanto tempo ainda demoraremos para chegarmos ao fim, e nem sequer sabemos o que tem lá. Deve haver alguma sala igual a todas as outras.

Quanto a aparições, não vimos, ouvimos ou sentimos nada, com exceção dos passos que ainda nos perseguem...






Parte 14


21 de abril
VISITA NOTURNA 

20:00
Chegamos faz pouco tempo. Já nos organizamos com os equipamentos. Vamos dar uma olhada geral e depois formar duplas. Aqui dentro, no escuro, as coisas são diferentes. Um vento muito frio está circulando pelo prédio, e o ar está denso, parece repleto de névoa, mas não sei exatamente dizer o que é. Passamos pelo portão de ferro, que range de forma monótona o tempo todo. O pátio central é tomado de um silêncio espectral. Demos uma rápida volta em torno. A noite é escura como a morte, sem lua. Adentramos o pátio interno, passando pelas arcadas principais, e ultrapassamos a grande e pesada porta de madeira que dá para a antiga recepção do prédio. Nele, olhamos para várias direções. Este prédio enorme parece não ter começo nem fim. De cada lado da recepção, um corredor segue, como que eternamente, suas próprias direções. No centro, o balcão de madeira ainda parece exalar vida. Consegui encontrar alguns poucos papéis nas gavetas da bancada, mas nada excepcional. Somente algumas receitas muito antigas, e também um par de algemas. Estranho encontrar objetos de épocas tão diferentes juntos em um mesmo lugar.

De trás das bancadas, seguem dois corredores menores, e, paralelas a eles, duas grandes escadas levam ao primeiro andar. O desenho do prédio não muda muito nos outros andares. Creio que o térreo tenha sido, em ambas as épocas de sua vida, a parte administrativa, enquanto os andares superiores guardavam seus presos, pois as "selas" começam a partir do primeiro andar.

Estou com um mapa do prédio em mãos, do qual tirei cópias. Após dividir os grupos, ou melhor, duplas, cada um vai seguir pelo térreo. Depois começaremos a subir.

Renan está terminando o ultimo cigarro. Ele não parou de fumar desde que saímos. Não quer demonstrar, mas sei que também está com um pouco de medo.

As garotas não escondem. Estão ansiosas. Os outros rapazes estão mais animados.

As câmeras estão com suas baterias carregadas, assim como as lanternas. Temos câmeras normais, de visão noturna, medidores EMF (de campo eletromagnético), gravadores digitais (para gravarmos fenômenos de voz eletrônicas), termômetros eletrônicos (para medir temperatura), detectores de movimento, entre outras quinquilharias fascinantes para procurar espíritos. Gostamos muito de nossos "brinquedos", e quando começamos a distribui-los, passamos a ficar mais animados que assustados.

 Já mexemos com isso outras vezes, mas esta é especial. Isto aqui é grande. Este lugar é incrível (e mortal).

É hora de começarmos a ação.



Parte 13

21 de abril
14:00

Sabe quando você acorda de um sonho ruim? Com aquela sensação de peso nos ombros, o suor gelado, a respiração ofegante... Então você descobre que era apenas um sonho e volta a dormir tranquilamente...

Eu me senti assim saindo daquela capela, mas a sensação de alivio não apareceu...

Saímos correndo daquele lugar, parecendo um bando de garotos assustados. Chegamos em nossas acomodações mais rápidos que um raio.

Eu quase morri! puta merda!


Não tivemos vontade de fazer mais nada o resto do dia. A equipe está assustada, creio que agora não dê mais pra negar que há algo estranho aqui, muito estranho.

Nós nunca costumamos dar muita importância a certas coisas, até que elas resolvam colocar em risco nossas vidas.

Resolvemos, então, descansar e esfriar a cabeça. ainda temos alguns dias aqui, e se voltarmos sem terminar o serviço, minha imagem e de minha equipe ficarão queimadas  alem do mais, estavamos todos muito animados e não podemos desistir só porque estamos um pouco assustados. Nós já trabalhamos com este tipo de coisa antes mas... Minha nossa, nada como isso!

Mesmo com o todos os sustos ainda sinto aquela mistura de euforia com um certo receio.

O restante do dia foi calmo, sem nada que nos recordasse aquele começo de tarde sobrenatural. Nossos animos se acalmaram ao entardecer, e logo o pessoal se animou de novo e começou a combinar nossa proxima visita.

A visita noturna ao predio principal já esperou muito. Ainda estou com um pouco de medo, até mais que os outros, pois foi minha vida que quase foi para o saco, mas não quero decepcioná-los, nem dar pra trás agora. Iremos hoje a noite. Já estamos nos preparando.

Enquanto isso, estou pensando como voltarei à capela para pegar a faca suja de sangue que ficou lá, abandonada... (Talvez a espera de um novo dono)

*-*-*-*-*

17:00
Está chegando a grande noite. Os ânimos estão exaltados, e há um certo peso no ar. Talvez nenhum de nós esteja totalmente certo do que iremos fazer, mas vamos de qualquer forma.

Eu sei, parece exagero, mas a sensação de estar sozinho em uma ilha sinistra e com esta fama, com um grupo seleto de pessoas, sem  civilização por perto, e com estas coisas estranhas acontecendo é algo indescritível.

Ficamos acordados até tarde ontem combinando o que faríamos hoje, e acabamos levantando muito tarde.  Parece que as coisas se acalmaram por aqui, pois tivemos outra ótima noite de sono.

Descansamos, nos organizamos, nos alimentamos bem, e logo partiremos com nossos equipamentos especificos para caçar assombrações.

Espero que estas sejam mais receptivas.

Estou tomando umas cervejas para relaxar. ERIC ja fumou uns três maços de cigarros e os outros estão agitados. Seja o que for, já que estamos no fogo, vamos nos queimar. Só espero que não nos queimemos muito.

Se não tiver mais nada escrito, talvez eu não esteja mais vivo. Haha!

Não sei porque, mas essa frase me provocou um certo calafrio...



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Parte 12

20 de abril
22:00

A CAPELA

Os documentos que encontramos a respeito da tal capela nos deixaram ainda mais ansiosos para conhecê-la. A historia do padre que matou as freiras e cortou os próprios pulsos nos deixou com vontade de acharmos algo que comprove o incidente. Provavelmente este pobre homem, tendo visões sobre espíritos malignos, e sem ter alguém que o amparasse ou que acreditasse nele, se viu sem saída e enlouquecera, vindo a acabar com sua vida e com a vida das irmãs. Ou será que outra coisa o obrigou a fazer isto?

Saímos por volta das 13:30. A tarde estava ensolarada e uma leve brisa agitava as folhas das arvores, de forma a nos proporcionar uma tarde relaxante. Caminhamos sem pressa, conversando descompromissadamente, falando sobre coisas banais.

Chegamos aos arredores da capela depois de algum tempo. O ar estava mais fresco, por conta da quantidade maior de arvores e plantas. Havia um pátio em frente ao prédio, já quase coberto pelo mato. As portas estavam seladas por uma grossa corrente, e alguns vitrais estavam quebrados, deixando os pássaros circularem livremente. Haviam ramos compridos de trepadeiras se espalhando por toda a fachada, e as paredes tinham perdido sua cor, deixando à mostra apenas uma cor apagada e mofada, com alguns pedaços faltando, por conta da falta de manutenção e exposição ao tempo.

Demos uma volta ao redor do local. Nos fundos, bem escondido entre o mato e as arvores, havia um pequeno barraco de madeira, onde, provavelmente, guardavam os materiais de limpeza e ferramentas, entre outros, anteriormente. Estava caindo aos pedaços, e com algumas madeiras faltando. A porta estava semi-aberta, e o vendo a fazia ranger de leve, causando-nos um leve arrepio na primeira vez que ouvimos.

Dentro dele estava quase vazio, exceto por uma ou outra ferramenta enferrujada, alguns baldes de ferro antigos, e pequenos animais que se aninhavam ali.

Demos o restante da volta e fomos tentar abrir as portas, com ajuda de algumas ferramentas. As meninas já estavam se adiantando, e terminamos o trabalho.

Após a queda da corrente, a pesada porta de madeira se abriu levemente. Empurramos um pouco, e um rangido alto estremeceu de leve o local vazio e silencioso. Um ar abafado e velho nos assaltou. Demos uma olhada lá dentro, e o local parecia ter sido esquecido pelo tempo.

Nos separamos para explorar melhor todo o local. Os bancos de madeira continuavam ali, imoveis, perdidos em um tempo que não voltaria mais, como se esperassem que as portas se abrissem novamente e que as pessoas se ajoelhassem para orar. Algumas estátuas descascadas de santos pareciam nos olhar com seus olhos de pedra. O largo altar era imponente, como os altares de todas as igrejas que já vi em minha vida. De trás do altar, um grande crucifixo reinava, testemunha muda de algo que talvez tenha acontecido, mas que não podemos saber com certeza.

Os vitrais quebrados davam um ar místico ao local, e o silêncio nos deixava quase amortecidos.

Parei diante do altar, e pedi a Marcelo que ligasse a câmera. Eu estava me sentindo sonolento, pesado, e os outros pareciam ter a mesma sensação. Todos, exceto nós dois, sentaram nos bancos e observavam o grande altar, como que nostálgicos e extasiados. Enquanto eu estava ali parado, sem saber como, exatamente, ia começar aquela filmagem, e Marcelo brincava distraidamente com a câmera, um bando de pássaros saíram voando pela janela, o que nos tirou do torpor, e nos trouxe de volta à realidade.

Algo fez um barulho ensurdecedor atrás de mim. Quando me virei, assustado, a grande cruz de madeira tinha se desprendido da parede e caído em cima do altar, a menos de um metro de mim. Ouvi Marcelo gritando "cuidado" e os outros soltando um grito, como se estivessem muito longe de mim.

Quando chegamos perto para levantar a cruz e deixá-la em pé, recostada à parede, vi que o altar tinha se rachado ao meio. Levantei a toalha encardida e desgastada que cobria a madeira, e vi, embaixo, algo que nos fez desistir de filmar e ir embora dali: uma faca enferrujada, toda suja com o que parecia ser sangue seco.





Parte 11

20 de abril
13:00

Estamos aqui há quase uma semana, e parece que faz muito mais tempo. Não sei explicar o que anda acontecendo. Eu custei a acreditar que havia algo sobrenatural na ilha, mesmo sabendo que nosso objetivo aqui é exatamente este... É aquela coisa: você quer, e ao mesmo tempo não quer que seja verdade.

Não sei, afinal, se estou feliz ou preocupado com a situação. Acredito que as duas coisas ao mesmo tempo. Coisas estranhas estão acontecendo, e isso é inegável. Os outros acham a mesma coisa. Conversamos um pouco antes de dormir ontem à noite, e chegamos à conclusão de que as coisas não são normais, de que já ultrapassaram os limites da "força do pensamento" ou "auto-sugestão".

Alguns estão mais receosos, enquanto outros estão mais excitados com a experiência. Acreditamos que, se estamos juntos, e se nada de ruim nos aconteceu até agora, é porque estamos seguros. Isso me animou bastante. O apoio desse pessoal é muito fortalecedor para mim.

O que me animou, também, é o fato de que esta noite, finalmente, dormimos tranquilamente. Nada de barulhos estranhos, ou de sonambulismo, ou ainda de sonhos premonitórios. Descansamos muito, e dormimos muito bem. Com certeza o cansaço estava me deixando desanimado, mas agora estou com as baterias carregadas de novo.

Levantamos mais tarde do que o normal, e tomamos um café reforçado. Pedi ao pessoal que me ajudassem com aquela montanha de papeis que recolhemos outro dia, para fins de pesquisa, e que focassem na tal capela que vimos ontem. Ainda falta muita coisa para ver, mas aos poucos a gente deixa isso em dia.

Encontramos coisas muito interessantes a respeito dela. O que não foge ao padrão, pois a cada dia descobrimos mais historias loucas e irreais.

Pode parecer clichê, algum tipo de cena barata retirada de um filme trash antigo, mas a verdade é que estas informações realmente estão nestes papeis velhos e cheirando à mofo, estragados com o tempo. Tudo o que  visitamos estes dias, tudo o que os relatos que estão em nossa pasta afirmam, todas as nossas experiências, e muito mais que isso, podem ser confirmados nestes vários papéis que encontramos fechados em gavetas e esquecidos com o tempo, nestes prédios abandonados.

A capela fora construída pouco tempo depois do presídio ser levantado. Diziam que isto afastaria os espíritos maléficos que assombraram, anteriormente, o local. Talvez tenha dado  um pouco certo, ou não. A questão é que ela funcionou muito bem, sendo preservada fechada na época em que o presídio foi fechado, e reativada quando instalaram aqui o sanatório.

Aqui residiam um padre e duas freiras, que auxiliavam nos serviços da capela. Mais ou menos na época dos registros do diário da enfermeira que via mortos, que eu li outro dia, o padre começou a alegar ver espíritos malignos ao redor da capela.

O tempo foi passando, e ninguém cria nele. As freiras tentavam cuidar para que seus relatos não alarmassem as pessoas, mas de nada adiantou, pois ele ia ficando cada dia mais histérico.

Um certo dia, após fecharem a capela, ele chamou as freiras para uma "reunião". O que resultou desta reunião foi apavorante. No dia seguinte, quando um dos zeladores da ilha foi abrir a capela, encontrou as freiras mortas a facadas e o padre com os pulsos cortados. Provavelmente matara as duas e se suicidara em seguida.

A capela foi fechada, e isto começou a deixar as pessoas desconfortáveis. Depois de tantas mortes, os funcionários começaram a ficar um pouco receosos.

Decerto, após um tempo as coisas começaram a piorar, e os loucos passaram a ser mais sãos que os que cuidavam deles.

 Sinceramente, não sabemos exatamente como e quando este sanatório foi fechado. Tudo o que encontramos até agora só nos mostra que coisas iam acontecendo cada vez mais, mas não descobrimos ainda como tudo terminou. Nem mesmo as pessoas que conhecem a historia local sabem dizer exatamente.

Chegou a hora de visitarmos a tal capela. Quero chegar ainda hoje e ver mais um pouco dessa papelada. Acho que amanhã iremos para a nossa exploração noturna no prédio principal.




quinta-feira, 19 de abril de 2012

Parte 10

19 de abril
19:00


Tive pesadelos estranhos esta noite.


Foi uma noite tranquila, provavelmente a mais tranquila desde que chegamos aqui. Todos dormiram bem, e acordaram descansados. Eu já não posso dizer o mesmo. Sonhei que estava no velho prédio principal. Ele estava inteiro, e eu sabia, no sonho, que fazia pouco tempo que o presídio havia sido fechado.


Eu andava pelos corredores, que estavam escuros e cheirando à mofo. Não havia ninguém comigo, e eu estava com medo. Lá fora, uma chuva repleta de raios e trovões caía. O vento gemia suavemente, passando por entre grades e portas, fazendo com que o lugar se tornasse ainda mais assustador.


Não parecia haver nenhum ser vivo ali, somente eu. Caminhava lentamente, olhando de soslaio para dentro das celas através das janelas engradadas. Nada se movia lá dentro, apenas eu e o vento.


O silêncio era sepulcral, o que me fez pular de susto quando algo caiu atrás de mim, no fundo do corredor.


Com receio me virei, e quando meus olhos percorreram o escuro corredor até o final, me ofertaram uma visão que, creio, nunca esquecerei.


Próxima à parede, caminhando em minha direção a passos lentos, uma mulher de idade indefinida me observava por entre os cabelos compridos, louros. Seu olhar era negro como a noite, demoníaco, cheio de ódio. Dos lábios exalava um leve sorriso irônico, apavorante. Vestia uma roupa antiga, de saias longas, branca, porém suja. Sua pele era acinzentada, como se a morte tivesse lhe visitado há algum tempo.


Neste momento senti um medo indescritível. Resolvi correr e, num impulso, entrei em uma das celas, cuja porta estava aberta. Fechei a porta, como se isso pudesse evitar a entrada daquele ser.


Quando me virei, meu sangue gelou! pendurados a uma viga no teto, enforcados, estavam todos os meus companheiros!


Um trovão iluminava este sonho sinistro quando acordei, banhado em suor e aos gritos. Os rapazes me acudiram, mas eu não lhes contei do sonho até a manhã seguinte. Não consegui mais pegar no sono o resto da noite, fiquei rolando na minha cama.


Levantei ainda cansado, e acho que vou ficar assim por um tempo. Tomei uns bons goles de café e saímos. No caminho contei-lhes o sonho, e ficaram meio assustados, com exceção de Renan, que sempre se faz de durão, mas que no fundo aposto que acredita em tudo.


Fomos em direção ao prédio principal, o mesmo de meu pesadelo. Tive receio de entrar lá, mas não podia falar isso pro pessoal. Respirei fundo e entramos no grande pátio.


De lá, comecei minha narrativa. 


O FIM DA PRISÃO


Como eu contei anteriormente, o tempo em que a prisão funcionou correu, em partes, bem. Alguns registros de historias estranhas, visões, desaparecimentos, entre outros. Mas nada muito significante.


Até aquela noite. 


Naquela noite, dois guardas faziam a ronda, como é de se esperar. Como ocorre frequentemente neste lugar, em certas épocas do ano, chovia torrencialmente, e relâmpagos iluminavam esporadicamente o local.


Os dois caras andavam juntos, conversando despreocupadamente, pois fazia um tempo que nada significante ocorria no lugar, enquanto os presos dormiam.


Mas um barulho os chamou a atenção. Um som leve, vindo do fundo do corredor...


Quando olharam para trás, viram uma mulher assustadora vindo em sua direção.


(como no meu pesadelo)


Um trovão mais forte iluminou o local, e, neste relance, eles viram todos mortos.


Tentaram gritar, caídos no chão, mas a voz não saía. As pernas não obedeciam, e eles ficaram ali, imóveis, observando aquela criatura se aproximando, enquanto olhos mortos os observavam de dentro das celas.


Os dois foram encontrados no dia seguinte. Um deles estava morto, e o outro, dizem, sobreviveu apenas alguns dias, o suficiente para contar o ocorrido, e dizer que olhou a morte nos olhos.


Todos os presos estavam mortos. Alguns tinham os pulsos cortados, outros estavam pendurados em cordas... Deduziram suicídio coletivo, mas a historia conta outra coisa.


Por fim, resolveram fechar o local, pois a maioria dos funcionários não queriam mais ficar. Acho que encontraram outro lugar para mandar os miseráveis, e as portas ficaram fechadas, até a brilhante ideia do hospício surgir. Daí as coisas ficaram ainda mais complicadas.


Mas eu não estava mais com fôlego para contar nada. Pedi ao pessoal que apenas dessemos uma volta por aí e fossemos embora. Estava cansado e um pouco abalado, por conta do pesadelo. Ainda não conhecia os detalhes da historia do presídio, mas sonhei com algo assustadoramente parecido.


-*-*-*-


Depois das filmagens no prédio, fomos dar uma olhada nas construções dos arredores. Depois de um tempo caminhando, pensando na vida, passamos por um prédio de apenas um andar e de porte médio, localizado a uma certa distância dos outros, em meio a algumas arvores, aos pés da mata. Aquele local era a antiga capela, aberta nos tempos do presídio, mas que voltou a funcionar com o hospício. Deve ter historias interessantes, vou procurar nos papeis. Queremos visitá-la amanhã.


Agora vou tomar umas cervejas e tentar dormir. Quem sabe eu não sonhe com a capela, ou ninguém vira sonambulo, ou a casa não crie vida. Espero poder descansar.

















quarta-feira, 18 de abril de 2012

Parte 9

18 de abril
Continuação...


O CÍRCULO DE MAGIA NEGRA


Reza a lenda local que, quando os primeiros muros foram levantados, para que um presídio de segurança máxima fosse construído, um grupo de pessoas morava aqui. Não eram exatamente nativos, mas sim uma comunidade que se deslocara do restante dos residentes do continente, ou que vieram de longe (não sabem ao certo) e vieram se estabelecer aqui, nesta ilha deserta. Eram homens e mulheres pertencentes a uma seita religiosa, que todos alegam ser magia negra. Claro, na época tudo era bruxaria má para as pessoas, mas os relatores alegam ser de fato magia do mau, com direito e sacrifícios e tudo.


Este grupo era perseguido, e se estabeleceu aqui, formando algum tipo de proteção ou algo semelhante. Todos que ousavam vir para cá morriam antes que pudesse encontrar um morador sequer. Logo, desistiram da busca.


Muito tempo se passou com a ilha totalmente deixada de lado, mas temida por todos. Um dia os franceses vieram, montaram uma pequena colônia de trabalhadores, e colocaram os homens para construir os muros.


Um dia, quando o sol estava se pondo, alguns homens foram caminhar na floresta para fumar, beber e bater papo, quando viram algumas garotas passando pouco adiante deles. Seguiram as moças, mas nada encontraram. As coisas começaram a ficar estranhas.


Começaram a encontrar todas as manhãs, ao redor das construções, fogueiras, restos de plantas diversas e animais mortos. Acharam que era coisa daquelas moças vistas, que estavam se escondendo em algum lugar, e resolveram procurá-las.


Um grupo saiu para a floresta, quando ainda era dia. Metade deles retornou à noite. O mesmo aconteceu dos três dias seguintes. Até que resolveram formar um grupo grande, composto de guardas e dos trabalhadores mais fortes. Mais da metade da colônia estava ali.


Muitos deles foram abatidos misteriosamente. Ninguém via as mortes, elas simplesmente ocorriam. Alguns corpos apenas sumiam. Dizem, até, que alguns pegavam fogo na frente dos companheiros.


Mas eram muitos, e a maioria dos que restavam persistiam. Já era de madrugada, quando ouviram murmúrios, e encontraram uma clareira. Nesta clareira, fogueiras, e pessoas dançando ao redor delas, proferindo palavras irreconhecíveis.


Não se sabe como, mas os colonos destruíram aquele grupo misterioso. Claro, devem ter feito coisas terríveis, mas a história sempre os verá como heróis.


Antes da ultima pessoa morrer (era uma sacerdotisa, dizem) proferiu algumas palavras e disse que aquela ilha seria deles para sempre, pois estava amaldiçoada.


Quem contou tudo isso foi um cara da vila que citei, no continente, que alega ser descendente de um dos homens sobreviventes àquela noite (antes de virmos para cá, um pessoal nosso veio fazer esse monte de pesquisas na região).


Depois desta noite trágica, o lugar nunca mais foi o mesmo. Vozes misteriosas, desaparecimentos, desentendimentos e outras coisas começaram a acontecer. Alguns desistiram do trabalho, e outros persistiram. Ao final das obras, os caras caíram fora da ilha, e sobraram os presos e quem veio para trabalhar na prisão para lidar com esse monte de coisa estranha.


Depois de um tempo, as coisas se acalmaram (um pouco). Até que, um dia, muitos presos apareceram mortos em suas celas, em cenas tragicamente medonhas. Carcereiros e outros funcionários tiveram o mesmo destino. Daí resolveram deixar o lugar e levar a prisão para outro canto. Muitos anos depois, compraram o local e um hospício foi construído.


Claro, não existe nada que comprove estes fatos (é isso que viemos procurar). São historias, mas bem interessantes.


-*-*-*-


Saímos hoje à procura do tal circulo. Andamos horas e horas, passando por riachos e por alguns caminhos de pedras. Mas na maior parte do tempo só encontramos mata.


Paramos para almoçar e descansar um pouco. As 13 horas retomamos a caminhada.


Quando eram 15:30 mais ou menos, encontramos uma espécie de clareira cercada de muitas arvores. O mato rasteiro dominava o terreno, mas, cavando um pouco, descobrimos que haviam pedregulhos por ali. Soltamos clamores de alegria, e passamos a trabalhar no local.


Filmamos tudo, inclusive eu contanto a lenda citada para a câmera, extasiado com o achado. Acredito que tenha ficado sensacional!


Logo depois, o grupo se enfiou dentro da mata próxima, e encontramos alguns restos de madeira podre, um ou outro pote de barro, algumas facas de ferro, e algo que parecia uma carranca pequena, uma estátua, sei la... Filmamos isso também. Foi bem interessante.


Faltava uma hora para escurecer e nem tínhamos nos dado conta. Achei prudente voltarmos. Agora, que sabíamos a direção a ser seguida, foi bem mais rápido retornar. No caminho, jurei ter visto novamente vultos humanos ao nosso redor, mas, como ninguém mais viu, acho que foi minha imaginação. Acho que fiquei emocionado com a lenda.


Nada de ruim nos aconteceu, de qualquer forma! ufa! haha. Chegamos em nossas acomodações com o sol avermelhando a paisagem.


Agora estamos descansando. Espero que a noite seja tranquila. Amanhã só saio daqui a hora que meu corpo estiver recarregado. Amanhã contaremos a  história das mortes na prisão, logo, acredito que não tenhamos que andar demais, ainda bem! Boa noite.











Parte 8

18 de abril
18:30


Foi outra noite daquelas! Cada uma que passa parece pior.


Desta vez Luiz cumpriu a função de sonambulo. Os outros rapazes e eu ficamos surpresos quando, acordados de súbito por um barulho no cômodo de baixo,  o vimos parado à porta do quarto, aparentemente olhando para a janela, com o olhar perdido. Uma chuva torrencial caia, e em certo momento um relâmpago iluminou seu rosto, que parecia perdido e distante.


Tentamos chamá-lo, em vão. ele virou-se de súbito em direção ao corredor e desceu as escadas. Fomos atrás dele. no andar de baixo, as meninas olhavam ao redor, jurando terem ouvido pessoas caminhando e discutindo.


Ou estamos ficando todos loucos, ou realmente há algo estranho por aqui. Ao mesmo tempo em que estou animado, não posso negar que fico um pouco ansioso com essa situação. Afinal, estamos sozinhos e isolados aqui, no meio do nada, loucos ou brincando com espíritos, ou sei lá o que.


Quando Luiz, finalmente, se deitou em um puff que ficava na sala de estar improvisada e pareceu relaxar, lá pelas 3 da manhã, voltamos para nossas camas. A casa voltou a ficar silenciosa.


Acordamos com um sol forte atravessando a janela. Era 9 horas da manhã, e eu estava exausto por conta das noites mal dormidas e dos dias longos de trabalho e andanças por aí. O pessoal também estava um pouco cansado, com exceção de Luiz. Perguntei a ele se lembrava de algo, mas ele disse que não, assim como a colega de sonambulismo. Além disso, ele disse que nunca fora sonambulo, assim como Luíza.


Ainda me esforço a acreditar que tudo não passa de fatores biológicos e psicológicos, estimulados pelo ambiente ao qual não estamos acostumados. Só acho que, depois de 5 dias aqui, já deveríamos estar nos acostumando. Bem, vamos ver o que nos ocorre nos próximos dias. Ainda temos muito o que fazer aqui, e não podemos mais perder tempo, afinal, se nos jogamos na chuva, deveríamos ter em mente que iriamos nos molhar.


Tomamos café e saímos, com um mapa velho e uma pasta com anotações em mãos, e fomos caçar os "pontos quentes" da ilha.


Apelidamos como pontos quentes aqueles locais onde, segundo relatos, há forte presença de atividades paranormais e/ou algum histórico de acontecimentos precedentes a elas. A pasta, a qual me referi a pouco, possui uma boa quantidade de relatos, historias, cartas, partes de livros e até desenhos que foram feitos em homenagem às historias deste local. Alguns relatos, do povo que reside próximo à costa no continente, e estão acostumados com certas historias, informam, inclusive, pontos da ilha onde certas coisas podem ter ocorrido, e alguns até nos mostraram no mapa.


O turismo na ilha sempre foi proibido, por se tratar de um local protegido desde a época em que foi desabitada. Ela sempre foi temida pela população, portanto era muito difícil ser visitada. Mas de vez em  quando um ou outro resolvia vir aqui só por diversão. Até que, alguns anos atrás, estes "visitantes" esporádicos vinham, mas não voltavam. Não foram muitos, acredito que três ou quatro, mas foram suficientes pro pessoal sequer querer chegar perto daqui.


E cá estamos nós, neste lugar maravilhoso, sozinhos e isolados, não é ótimo?!!! haha


Eu estava lendo estes relatos na pasta, enquanto caminhávamos para o primeiro ponto quente: O círculo de magia negra!


Se achávamos que aqui só teríamos contos de almas penadas andando com correntes, estávamos enganados! isto aqui é o tesouro dos mistérios. O documentário vai ser fenomenal, e meu livro um sucesso! espero poder ter algumas fotos para colocar nele!


Em seguida vou relatar a historia e o relato da visita.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Parte 7

17 de abril
20:40


Estou cansado.


A noite foi, novamente, agitada. Depois de escrever aqui, fui dormir. Mas a casa pareceu criar vida.


Barulhos por todas as partes, portas se batendo, objetos caindo, passos... E o pior é que Luíza estava caminhando feito zumbi novamente. Em alguns momentos algum de nós saía para ver o que estava acontecendo, e ela passava por nós e nem se dava conta. Quando me levantei pela ultima vez já amanhecia. Fui pegar um pouco de água e ela estava parada à porta da varanda, olhando para o nada. Peguei-a com cuidado, para não acordá-la, e a levei para a cama. Dormimos todos até 8 horas. Falei para ela ficar descansando mas ela se dizia disposta. Na verdade não entendo muito de sonambulismo, achei que eles se cansassem à noite.


Perguntamos a ela, ainda, se recordava-se de alguma coisa durante a noite. Se ela sonhava, pelo menos. Ela alegava que, quando deitava, já dormia e só se recordava de acordar no dia seguinte, totalmente descansada. Alegou, ainda, que há tempos não se sentia tão revigorada. Vai ver os passeios noturnos não a cansam, afinal, ela dormia de qualquer forma. E, devo admitir, este local tranquilo é ótimo para descansar, também me sinto mais revigorado, mesmo não dormindo mais que o normal.


A casa é algo peculiar. Sempre me senti meio estranho em casas velhas, ainda mais no meio do mato. Pior ainda quando não há presença de seres humanos por perto, apenas outros prédios velhos e abandonados, todos com este histórico sinistro. Na minha equipe, alguns já estão começando a manifestar medo. Eu estou calmo, só um pouco receoso. Parece besteira, mas acho que o monte de historias que ouvimos sobre o local, e a solidão, estão mexendo com nossas mentes. Será?


Quando saímos, percebemos que uma bruma muito densa cercava o local. Tudo estava branco, até dentro das varandas dos prédios. Não estamos seguindo a meteorologia local, mas achei estranho este nevoeiro todo àquela hora.


- Agora sim, estamos começando a entrar no clima! - exclamou, com bom humor, nosso amigo Renan.


Nosso foco inicial neste dia foi o prédio principal. Esperávamos encontrar algumas coisas interessantes lá.


Entramos no pátio circular pelo portão velho, que no momento se encontrava rangendo com uma brisa leve que passava por ali. De resto, estava tudo silencioso. Tão silencioso que realmente dava um pouco de medo. Comecei a sentir um aperto no peito. Aquela névoa, esbranquiçando tudo e deixando pouco à vista. O silêncio, quebrado apenas pelo ranger do grande portão de ferro, suave, mas estridente e irritante. Marcelo, para variar, filmava mesmo com a névoa. Ele queria ver sombras nas filmagens, haha! Estávamos realmente entrando no clima, de vez. Parecia que tínhamos entrado em um daqueles programas de caçar espíritos... Bem, não somos tão diferentes. Afinal, estamos aqui para filmar nossas experiências no local, contando suas lendas, além de eu registrar nossas experiências mais profundas neste diário. Eu quero mesmo que este livro contenha coisas reais, espero que possamos vivenciar alguma coisa interessante, além de barulhos noturnos e névoas fora de hora.


O cheiro suave da neblina se misturava com o cheiro do cigarro de Renan, que circulava ao redor do pátio, maleta de equipamentos na mão, pensativo. Luiz estava com o olhar perdido na varanda do segundo andar, e as meninas fuçavam com estonteante animação as partes cobertas do térreo circular. Estagnei por alguns minutos no centro do pátio, meditando. Olhos fechados, ouvidos aguçados, tentando ouvir ou sentir algo.


Muito distante, de dentro do prédio, eu podia ouvir pequenos barulhos. Coisas básicas, que me lembravam de pés se arrastando, batidas em objetos, entre outros. Poderiam ser dezenas de coisas: vendo, pássaros, outros animais, ou até - provavelmente - minha rica imaginação. Mas isso me excitou. Pedi ao pessoal que entrássemos.


O prédio estava silencioso, ao contrário do que eu imaginava. Muito silencioso, aliás. Ele é enorme, velho, com as paredes manchadas e descascadas. Objetos de todo tipo se espalham por todos os lados, como se uma rebelião tivesse ocorrido ali. Alas enormes, com corredores largos e salas grandes se alinhavam por todos os andares. Algumas das salas, que serviram de prisão tanto para loucos como para criminosos, ainda possuíam macas enferrujadas, com tecidos sujos e desgastados pelo tempo. Algumas posicionadas rentes à parede, outras em posições pouco organizadas, algumas até viradas de ponta cabeça.


Em uma ampla sala do 3º andar, o que nos parecia uma sala de espera ou de descanso, haviam ninhos de pássaros em vigas no teto alto. Quando entramos, os animais se agitaram, alguns saíram voando por uma janela com a vidraça destruída. Decerto, era o local mais apropriado para os pobres animais residirem, naquele prédio. Devem ter sido eles que ouvi mais cedo, lá fora.


O prédio é realmente muito grande, de forma que esquecemos do horário de almoço, com a empolgação da empreitada. Ainda não conseguimos visitá-lo todo. Faltaram algumas partes do andar superior, e também o subsolo (que deve ser bem interessante).


Saímos dele por volta das 15:00 e voltamos para o preparar o almoço. Ele é muito interessante porém não encontramos nada sobrenatural. Opinei por visitarmos ele à noite, e o pessoal gostou da ideia, mesmo um pouco receosos. Lá fora, o sol brilhava forte e os pássaros cantavam normalmente.


Depois de comermos e descansarmos, passamos o restante do dia planejando o que faríamos nos próximos dias. Amanhã começaremos a procurar os pontos da ilha que se relacionam com as histórias que ouvimos, e as contaremos para a câmera. Será muito interessante. Depois que terminarmos esta fase, iremos fazer o tour noturno no prédio principal, e depois dele, os outros. Fizemos mais alguns planos e deixamos para ver melhor as filmagens no final, mas duvido que a curiosidade deixe!


Vou descansar e ler um livro antes de dormir. Boa noite!





Parte 6


17 de abril3:30Estive analisando os papeis e encontrei coisas fascinantes. Na verdade, coisas estranhas e também fascinantes. Tenho que acordar daqui a poucas horas para trabalhar, mas não consigo desgrudar disso aqui. Com certeza utilizarei isto em meu livro. Creio que não serão muito uteis para o documentário, mas para o meu trabalho  será como uma grande pitada de pimenta.Descobri documentos diversos: de fichas de pacientes a diários. Um deles – de uma enfermeira – alega ter visto pessoas mortas voltarem à vida. Esta foi a ultima anotação do tal diário. Achei estranho o fato de que a anotação deste dia não estava terminada, e que as  letras estavam muito mais ilegíveis do que nas anotações dos dias anteriores. Isto foi um pouco antes do manicômio fechar. Fiquei pensando se esta enfermeira trabalhou tanto com loucos que acabou virando um deles. Dei uma folheada rápida no diário e, geralmente, ela estava preocupada ou perturbada com barulhos estranhos, vultos no meio da mata, vozes vindos do necrotério, entre outras coisas fantasmagóricas e espetaculares.Achei, também, uma ficha, do manicômio, de um homem com sintomas de esquizofrenia crônica. Algumas anotações sugeriam que ele se dizia morto, e que outros seres de outra dimensão estavam atrás dele. Logo depois de ver isso encontrei a ficha do mesmo homem, mas na penitenciaria, muitos anos depois. Seria impossível este homem estar vivo ainda nesta época, devido à datação dos documentos, além da aparência quase idêntica nas fotos. É incrível como os dois documentos são idênticos: foto, nome, idade, tudo, tirando o fato de que um era louco e o outro assassino. Deve ter sido algum tipo de brincadeira do pessoal que trabalhava aqui, só pode.Encontrei muitos, mas muitos relatos de pacientes, e também de presos, que diziam ver espíritos andando pelos corredores. Alguns ainda conversaram, ou eram agredidos por eles. Estes relatos eram todos guardados em uma pasta. Esta historia devia ser uma febre  por aqui, mexendo com a imaginação de todos... Ou não era imaginação? Só sei que este lugar está ficando cada dia mais interessante.Eu sempre prefiro dar preferencia ao lado racional das coisas, mas sempre me deixo um pouco aberto para tudo. De qualquer forma, prefiro procurar mais. Estes documentos me deixaram excitado.Vou dormir, pois preciso de um mínimo de descanso, ou eu que começarei a ter alucinações.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Parte 5



16 de abril
19:30


O dia foi muito produtivo, diferente do primeiro. Exceto pelo fato de que todos ficamos acordados boa parte da noite, sem sono. Deve ser o estranhamento do ambiente, o silêncio ao qual não estamos acostumados, ou o ar puro, diferente do ar da cidade. Luíza parecia realmente sonambula, pois passara na porta de nosso quarto, enquanto batíamos um papo. Ela olhou para dentro e, parecendo não ver ninguém, continuou andando pelo corredor. Foi uma noite agitada. Mesmo assim, levantamos dispostos e animados.

Demos umas voltas pela ilha. Ela não é exatamente grande, de forma que pudemos contorna-la na parte da manhã. Na hora do almoço, montamos nosso acampamento e almoçamos à beira do rio. Pudemos matar um pouco a vontade de pescar, e comemos alguns peixes frescos.



Às duas da tarde focamos nas construções. Como eu disse, estamos hospedados em um dos prédios antigos, mas a ilha possui vários. São pavilhões e mais pavilhões e, também, prédios velhos, quebrados ou tomados pelo mato. De alguns só se vêm os pedaços no chão. Outros estão inteiros, faltando apenas os vidros das janelas. Pudemos visitar a ala administrativa, que fica perto dos dormitórios dos antigos funcionários (carcereiros e outros, na época do presidio, e enfermeiras, médicos, faxineiros, entre outros, na época do hospício), além de cozinha, refeitório e área de convivência para eles, pois, afinal, os caras precisavam respirar. Estes locais não estão tão estragados quanto os prédios onde ficavam os pacientes ou detentos, acredito que pelo fato de que estes eram mais antigos.


No centro do prédio principal (ouvi falar que era onde ficavam os loucos mais violentos e, posteriormente, os presos mais perigosos) há um enorme pátio circular, creio que era onde eles tomavam o banho de sol. Para sair deste pátio só há uma saída: um enorme portão de ferro, hoje já corroído pelo tempo, que produz um ranger horripilante quando é levemente balançado pelo vento. O prédio também não contém saídas (isso se não contarmos as passagens secretas e tuneis escuros que dizem haver por aí).O local é enorme. São diversos prédios. Achamos que não ia dar tanto trabalho, mas acho que teremos que explorar melhor a região.

Na ala administrativa encontramos vários documentos antigos. Me dei a liberdade de pegá-los emprestados. Hoje a noite darei uma olhada neles. Assim que observa-los bem devolvo ao local de origem. Com certeza encontrarei coisas bem interessantes para meu trabalho.Demos uma boa olhada pelas construções, a maioria apenas no lado de fora. 



Estávamos no tal pátio quando começou a escurecer. As coisas ali parecem estranhas. Tive a impressão de que havia gente caminhando nas sacadas dos andares ao redor. A luz do sol movimentava as sombras conforme o poente chegava, e isso com certeza mexeu com minha imaginação. Mas foi uma experiência no mínimo interessante.Com a escuridão em nossos calcanhares, resolvemos nos recolher em nossa residência temporária, que ficava um pouco distante das construções principais, na beira de uma estrada de cascalhos que se principiava nos prédios administrativos principais e levava a alguns aposentos anteriormente utilizados por hospedes e também por funcionários. Estavamos em um dos grandes, provavelmente dividido por funcionários mesmo. Chegamos a casa e nos preparamos para descansar. 


Amanhã iremos levantar cedo e começaremos a explorar as partes de dentro dos prédios principais.

domingo, 15 de abril de 2012

Parte 4



15 de abril
17:40

Hoje o dia começou agitado. Todos levantamos cedo, tomamos café e nos aprontamos para a primeira exploração da ilha. Estávamos levando equipamentos de filmagem para fazer uma introdução da série. Quando já estávamos a certa distancia de nossa residência temporária, ouvimos trovões. Achamos estranho, pois o céu estava limpo. Pensamos que podia ser uma arvore caindo, sei lá. Cinco minutos depois outro, mais forte, e do nada o céu começou a enegrecer. Mal deu tempo de encontrarmos um abrigo e gotas grossas e pesadas começaram a cair em cima de nós. Entramos correndo em uma pequena caverna. Nem era uma caverna, parecia mais uma cavidade feita na terra, ao pé de um morro. Não estávamos tão preocupados em pegar chuva, mas sim com nossos equipamentos. Ficamos todos lá, vendo o céu escurecer cada vez mais, e a chuva tomar dimensões quase diluvianas. As arvores dançaram freneticamente com o vento, enquanto a floresta ecoava seus assovios de forma assustadora, como uma sinfonia fantasmagórica.

Pensei que aquilo seria muito interessante como introdução do documentário, e pedi ao Marcelo que filmasse aquela bagunça com a câmera portátil. Depois veremos a filmagem.

Ficamos observando este teatro chuvoso por mais ou menos duas horas. Quando o céu começou a limpar novamente, e o que víamos da chuva eram apenas os respingos provenientes das arvores, ainda balançando com o vento, resolvemos sair. Pensamos por um momento em continuar nossa expedição, mas o chão estava totalmente enlameado e escorregadio, o que poderia provocar um acidente (ou no mínimo boas risadas). Além do mais, estava perto da hora do almoço, e eu já estava com fome (a melhor desculpa de todas para voltar). Sendo assim, voltamos para casa e fomos preparar o rango.


Após o almoço, palitei os dentes na varanda, enquanto apreciava um cigarro. Minha digestão não é a mesma sem meu cigarro habitual. O pessoal estava lá dentro, alguns caindo de sono, querendo tirar a soneca da tarde, outros jogando conversa fora. Eu estava olhando para o mato, que ainda estava úmido, cheirando a terra molhada, embora o sol já estivesse de fora novamente, e com toda a força. Em um relance me pareceu ter visto o vulto passando. Não o vulto de um animal qualquer, mas de uma pessoa. Foi rápido, mas eu jurava ter visto suas pernas, seus braços, e seu caminhar rápido de uma arvore a outra. Poderia ate jurar que a sombra olhou para mim. Voltei para dentro e todos estavam lá. Pelo que eu saiba só estamos nós nesta ilha. Fiquei preocupado, quem sabe podiam ser salteadores. Embora a costa, no continente, fosse bem monitorada, não permitindo a ida de qualquer um para qualquer lugar que fosse, ainda mais para as ilhas, achei melhor verificar.


Caminhei por pelo menos uma hora, sem me dar conta. Não encontrei ser humano algum, mas descobri uma beleza natural muito peculiar e atraente. Muitos pássaros, macacos e pequenos roedores. O rio tinha agua cristalina, e havia uma diversidade de peixes. Seria interessante organizar uma pescaria. Quando voltei, comentei isso com o pessoal, e faremos isso, mas primeiro temos que começar a gravar. Jajá começaremos a nos atrasar.