sexta-feira, 20 de abril de 2012

Parte 12

20 de abril
22:00

A CAPELA

Os documentos que encontramos a respeito da tal capela nos deixaram ainda mais ansiosos para conhecê-la. A historia do padre que matou as freiras e cortou os próprios pulsos nos deixou com vontade de acharmos algo que comprove o incidente. Provavelmente este pobre homem, tendo visões sobre espíritos malignos, e sem ter alguém que o amparasse ou que acreditasse nele, se viu sem saída e enlouquecera, vindo a acabar com sua vida e com a vida das irmãs. Ou será que outra coisa o obrigou a fazer isto?

Saímos por volta das 13:30. A tarde estava ensolarada e uma leve brisa agitava as folhas das arvores, de forma a nos proporcionar uma tarde relaxante. Caminhamos sem pressa, conversando descompromissadamente, falando sobre coisas banais.

Chegamos aos arredores da capela depois de algum tempo. O ar estava mais fresco, por conta da quantidade maior de arvores e plantas. Havia um pátio em frente ao prédio, já quase coberto pelo mato. As portas estavam seladas por uma grossa corrente, e alguns vitrais estavam quebrados, deixando os pássaros circularem livremente. Haviam ramos compridos de trepadeiras se espalhando por toda a fachada, e as paredes tinham perdido sua cor, deixando à mostra apenas uma cor apagada e mofada, com alguns pedaços faltando, por conta da falta de manutenção e exposição ao tempo.

Demos uma volta ao redor do local. Nos fundos, bem escondido entre o mato e as arvores, havia um pequeno barraco de madeira, onde, provavelmente, guardavam os materiais de limpeza e ferramentas, entre outros, anteriormente. Estava caindo aos pedaços, e com algumas madeiras faltando. A porta estava semi-aberta, e o vendo a fazia ranger de leve, causando-nos um leve arrepio na primeira vez que ouvimos.

Dentro dele estava quase vazio, exceto por uma ou outra ferramenta enferrujada, alguns baldes de ferro antigos, e pequenos animais que se aninhavam ali.

Demos o restante da volta e fomos tentar abrir as portas, com ajuda de algumas ferramentas. As meninas já estavam se adiantando, e terminamos o trabalho.

Após a queda da corrente, a pesada porta de madeira se abriu levemente. Empurramos um pouco, e um rangido alto estremeceu de leve o local vazio e silencioso. Um ar abafado e velho nos assaltou. Demos uma olhada lá dentro, e o local parecia ter sido esquecido pelo tempo.

Nos separamos para explorar melhor todo o local. Os bancos de madeira continuavam ali, imoveis, perdidos em um tempo que não voltaria mais, como se esperassem que as portas se abrissem novamente e que as pessoas se ajoelhassem para orar. Algumas estátuas descascadas de santos pareciam nos olhar com seus olhos de pedra. O largo altar era imponente, como os altares de todas as igrejas que já vi em minha vida. De trás do altar, um grande crucifixo reinava, testemunha muda de algo que talvez tenha acontecido, mas que não podemos saber com certeza.

Os vitrais quebrados davam um ar místico ao local, e o silêncio nos deixava quase amortecidos.

Parei diante do altar, e pedi a Marcelo que ligasse a câmera. Eu estava me sentindo sonolento, pesado, e os outros pareciam ter a mesma sensação. Todos, exceto nós dois, sentaram nos bancos e observavam o grande altar, como que nostálgicos e extasiados. Enquanto eu estava ali parado, sem saber como, exatamente, ia começar aquela filmagem, e Marcelo brincava distraidamente com a câmera, um bando de pássaros saíram voando pela janela, o que nos tirou do torpor, e nos trouxe de volta à realidade.

Algo fez um barulho ensurdecedor atrás de mim. Quando me virei, assustado, a grande cruz de madeira tinha se desprendido da parede e caído em cima do altar, a menos de um metro de mim. Ouvi Marcelo gritando "cuidado" e os outros soltando um grito, como se estivessem muito longe de mim.

Quando chegamos perto para levantar a cruz e deixá-la em pé, recostada à parede, vi que o altar tinha se rachado ao meio. Levantei a toalha encardida e desgastada que cobria a madeira, e vi, embaixo, algo que nos fez desistir de filmar e ir embora dali: uma faca enferrujada, toda suja com o que parecia ser sangue seco.





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