terça-feira, 17 de abril de 2012

Parte 7

17 de abril
20:40


Estou cansado.


A noite foi, novamente, agitada. Depois de escrever aqui, fui dormir. Mas a casa pareceu criar vida.


Barulhos por todas as partes, portas se batendo, objetos caindo, passos... E o pior é que Luíza estava caminhando feito zumbi novamente. Em alguns momentos algum de nós saía para ver o que estava acontecendo, e ela passava por nós e nem se dava conta. Quando me levantei pela ultima vez já amanhecia. Fui pegar um pouco de água e ela estava parada à porta da varanda, olhando para o nada. Peguei-a com cuidado, para não acordá-la, e a levei para a cama. Dormimos todos até 8 horas. Falei para ela ficar descansando mas ela se dizia disposta. Na verdade não entendo muito de sonambulismo, achei que eles se cansassem à noite.


Perguntamos a ela, ainda, se recordava-se de alguma coisa durante a noite. Se ela sonhava, pelo menos. Ela alegava que, quando deitava, já dormia e só se recordava de acordar no dia seguinte, totalmente descansada. Alegou, ainda, que há tempos não se sentia tão revigorada. Vai ver os passeios noturnos não a cansam, afinal, ela dormia de qualquer forma. E, devo admitir, este local tranquilo é ótimo para descansar, também me sinto mais revigorado, mesmo não dormindo mais que o normal.


A casa é algo peculiar. Sempre me senti meio estranho em casas velhas, ainda mais no meio do mato. Pior ainda quando não há presença de seres humanos por perto, apenas outros prédios velhos e abandonados, todos com este histórico sinistro. Na minha equipe, alguns já estão começando a manifestar medo. Eu estou calmo, só um pouco receoso. Parece besteira, mas acho que o monte de historias que ouvimos sobre o local, e a solidão, estão mexendo com nossas mentes. Será?


Quando saímos, percebemos que uma bruma muito densa cercava o local. Tudo estava branco, até dentro das varandas dos prédios. Não estamos seguindo a meteorologia local, mas achei estranho este nevoeiro todo àquela hora.


- Agora sim, estamos começando a entrar no clima! - exclamou, com bom humor, nosso amigo Renan.


Nosso foco inicial neste dia foi o prédio principal. Esperávamos encontrar algumas coisas interessantes lá.


Entramos no pátio circular pelo portão velho, que no momento se encontrava rangendo com uma brisa leve que passava por ali. De resto, estava tudo silencioso. Tão silencioso que realmente dava um pouco de medo. Comecei a sentir um aperto no peito. Aquela névoa, esbranquiçando tudo e deixando pouco à vista. O silêncio, quebrado apenas pelo ranger do grande portão de ferro, suave, mas estridente e irritante. Marcelo, para variar, filmava mesmo com a névoa. Ele queria ver sombras nas filmagens, haha! Estávamos realmente entrando no clima, de vez. Parecia que tínhamos entrado em um daqueles programas de caçar espíritos... Bem, não somos tão diferentes. Afinal, estamos aqui para filmar nossas experiências no local, contando suas lendas, além de eu registrar nossas experiências mais profundas neste diário. Eu quero mesmo que este livro contenha coisas reais, espero que possamos vivenciar alguma coisa interessante, além de barulhos noturnos e névoas fora de hora.


O cheiro suave da neblina se misturava com o cheiro do cigarro de Renan, que circulava ao redor do pátio, maleta de equipamentos na mão, pensativo. Luiz estava com o olhar perdido na varanda do segundo andar, e as meninas fuçavam com estonteante animação as partes cobertas do térreo circular. Estagnei por alguns minutos no centro do pátio, meditando. Olhos fechados, ouvidos aguçados, tentando ouvir ou sentir algo.


Muito distante, de dentro do prédio, eu podia ouvir pequenos barulhos. Coisas básicas, que me lembravam de pés se arrastando, batidas em objetos, entre outros. Poderiam ser dezenas de coisas: vendo, pássaros, outros animais, ou até - provavelmente - minha rica imaginação. Mas isso me excitou. Pedi ao pessoal que entrássemos.


O prédio estava silencioso, ao contrário do que eu imaginava. Muito silencioso, aliás. Ele é enorme, velho, com as paredes manchadas e descascadas. Objetos de todo tipo se espalham por todos os lados, como se uma rebelião tivesse ocorrido ali. Alas enormes, com corredores largos e salas grandes se alinhavam por todos os andares. Algumas das salas, que serviram de prisão tanto para loucos como para criminosos, ainda possuíam macas enferrujadas, com tecidos sujos e desgastados pelo tempo. Algumas posicionadas rentes à parede, outras em posições pouco organizadas, algumas até viradas de ponta cabeça.


Em uma ampla sala do 3º andar, o que nos parecia uma sala de espera ou de descanso, haviam ninhos de pássaros em vigas no teto alto. Quando entramos, os animais se agitaram, alguns saíram voando por uma janela com a vidraça destruída. Decerto, era o local mais apropriado para os pobres animais residirem, naquele prédio. Devem ter sido eles que ouvi mais cedo, lá fora.


O prédio é realmente muito grande, de forma que esquecemos do horário de almoço, com a empolgação da empreitada. Ainda não conseguimos visitá-lo todo. Faltaram algumas partes do andar superior, e também o subsolo (que deve ser bem interessante).


Saímos dele por volta das 15:00 e voltamos para o preparar o almoço. Ele é muito interessante porém não encontramos nada sobrenatural. Opinei por visitarmos ele à noite, e o pessoal gostou da ideia, mesmo um pouco receosos. Lá fora, o sol brilhava forte e os pássaros cantavam normalmente.


Depois de comermos e descansarmos, passamos o restante do dia planejando o que faríamos nos próximos dias. Amanhã começaremos a procurar os pontos da ilha que se relacionam com as histórias que ouvimos, e as contaremos para a câmera. Será muito interessante. Depois que terminarmos esta fase, iremos fazer o tour noturno no prédio principal, e depois dele, os outros. Fizemos mais alguns planos e deixamos para ver melhor as filmagens no final, mas duvido que a curiosidade deixe!


Vou descansar e ler um livro antes de dormir. Boa noite!





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